Biografia

O anjo caído

HELTON RIBEIRO
Colaboração para Folha Online

Chet Baker foi como um anjo que desceu ao inferno. No início da carreira, encantava as mulheres pela beleza e o canto suave. Vinte anos depois, era um junkie de rosto sulcado, perseguido pela polícia. Com seu trompete romântico, foi um dos criadores do "west coast jazz", a variante californiana do cool lançado por Miles Davis e Gerry Mulligan, e, como cantor, influenciou a bossa nova.

Chesney Henry Baker nasceu em Yale, Oklahoma, em 23 de dezembro de 1929, e se mudou com a família para a Califórnia, em 40. Na infância, começou a cantar na igreja e ganhou um trompete do pai. Aos 16 anos, alistou-se no Exército e começou a tocar em bandas militares.

Em 52, já como músico profissional, acompanhou Charlie Parker em turnê pela costa oeste. Em seguida, entrou para o seminal Gerry Mulligan Quartet, que criou o estilo "west coast". Suas versões de 'My Funny Valentine' e 'Moonlight in Vermont' com Mulligan são clássicas. Dois anos depois, ele conquistou um novo público ao lançar-se como cantor, à frente do próprio quarteto.

Apesar do sucesso, sua vida ia de mal a pior, com seguidas detenções por porte de heroína. Na Itália, onde morou nos anos 60, passou mais de um ano preso. O vício deteriorou sua reputação nos Estados Unidos, embora ele ainda fosse aclamado na Europa, onde, nos anos 70 e 80, gravou alguns de seus melhores discos.

Em 13 de maio de 88, Chet teve uma morte trágica, ao cair da janela de um hotel em Amsterdã. A causa do acidente tem duas versões: suicídio ou excesso de drogas. O que dá quase no mesmo.