Contexto histórico

Colaboração para Folha Online

Desde o bebop, os jazzistas vinham assumindo uma postura desafiadora, almejando ser vistos como artistas, não meros ‘entertainers‘. Miles levou isso ao paroxismo: às vezes tocava de costas para o público, ou saía do palco enquanto solava. Com isso, ele procurava sublinhar sua arte, deixando de lado tudo que não fizesse parte dela, mesmo que fosse a comunicação com o público. A persona risonha e brincalhona de um Louis Armstrong, por exemplo, não era para ele.

Esse bop com mais "alma", menos cerebral, foi rotulado de hard bop ou pós-bop. A música de Silver receberia adjetivos como "soul" e "funky", sendo considerado um precursor de ambos os gêneros musicais.

Miles também rompia com a imagem de que o músico de jazz devia ser um pobretão incompreendido. Ele queria ser (e foi) rico e popular. O único arquétipo do qual não conseguiu se livrar foi o do jazzista viciado em drogas.

Essa atitude altiva (ou arrogante, dependendo do ponto de vista) era expressa igualmente em suas opiniões ferinas. Ele envolvia-se em polêmicas com outros artistas e a indústria fonográfica. Sobre o prêmio Grammy, por exemplo, disse que privilegiava músicos brancos que tinham copiado os negros.